Tuesday, August 01, 2006

5.5 - Hidrografia

Os rios que nascem no planalto angolano e que o cortam em bacias hidrográficas diferenciadas são talvez o factor mais importante no padrão de ocupação humana das terras de Angola. A maioria dos rios angolanos nascem nas terras altas do planalto central e correm em quatro direcções disferentes:

- Para Norte, partilhando a imensa bacia do Zaire correm os afluentes do Grande Rio, como o Cuango, Cuílo, Caluango, Chicapa, Luachimo, Chiumbe e Cassai;

- Para a costa atlântica correm o M'Bridge, Lodge, Dande, Bengo, Cuanza (o maior rio inteiramente no território de Angola), Queve (ou Cuvo), Catumbela, Caporolo, Bentiaba e Curoca, a norte e a oeste do planalto; e o Cunene a Sul e Oeste das terras altas da Huíla;

- Directamente para Sul em direcção ao Lago Etosha no deserto do Kalahari, correm um número de rios de menor caudal, ou mesmo de caudal temporário, a leste da bacia do Cunene, como o rio Cariango;

- No quadrante sudeste do território de Angola, nas chamadas Terras do Fim do Mundo, todos os rios correm na direcção sudeste formando a orla ocidental da grande bacia do Zambeze. Pela sia importância devemos mencionar os rios Cubango, Cuito, Cuando, Luiana, e Lungué-Bungo, e o prório Zambeze no salente do Cazombo.

Os rios que cortam o planalto são em geral de pequeno volume e fraco declive no seu troço inicial. Contudo, ganham volume e declive depois de atravessarem as montanhas criando vales apertados antes de atingirem o litoral, sendo comuns as cataratas e os rápidos, antes de atingirem o seu troço terminal. A floresta de galeria (muxitos) é comum na maioria dos rios do planalto.

Já nas planícies costeiras, onde as àguas se juntam em maior quantidade, os rios espraiam-se geralmente por terrenos baixos, onde predominam os palmares, e desaguam em estuário. Os mangais são típicos desses estuários, onde predomina a àgua salgada.

A maioria dos rios não são própios para a navegação, quando, para além do elevado declive e da queda brusca de altitude, considerarmos o facto de que muitos deles têm volume insignificante na época do cacimbo (na estação seca o rio Cunene chega às vezes a desaparecer), e são torrenciais na época das chuvas. Por outro lado, e devido ao rápido declive, a maioria dos rios angolanos oferecem um potencial muito grande para aproveitamento hidroeléctrico.

A maioria dos rios em Angola são ricos em peixe, que era em norma capturado por pescadores artesanais e consumido localmente, com a excepção da pesca da tuqueia, que era uma actividade económica tradicional importante na bacia do Zambeze, e cuja produção era exportada para as regiões limítrofes.

Para a maioria dos rios de Angola, o seu nome é composto pelo prefixo KU, que sugere curso de àgua em movimento, sehuido da palavra banta para o seu nome local. Por exemplo, Kunene quer dizer <KU (rio) + NENE (grande)> significa rio gande para os povos Ovimbundo, Nhaneca-Humbe, Ambó e Herero. Acontece ainda que a alguns rios sejam dados nomes diferentes ao longo do seu curso, de acordo com o dialecto local de cada povo cujo território o rio atravessa no seu curso. Por exemplo, o rio Cuvo (ou Queve) é designado por Cuvo nas terras altas do Huambo, e por Queve mais a juzante e perto da sua foz.

Os principais rios angolanos são:

O rio Chiloango é o principal rio na província de Cabinda, é navegável por cerca de 160 km, desde a sua foz em Lândana até à sua confluência com o Luáli, à entrada da floresta do Maiombe, e a sua bacia hidrográfica estende-se por 5.170 km².

O rio Zaire, um dos maiores rios de África e do planeta, é apenas navegável até cerca de 150 km da foz em Nóqui. A porção da sua bacia hidrogáfica em território angolano é aproximadamente 30.050 km. Numa perspectiva histórica, o rio Zaire (ou Congo) foi o berço do Antigo Reino do Congo.

O rio Cuango nasce no Alto Chicapa (Lunda Sul) e corre na direcção Sul-Norte-Noroeste servindo de fronteira com a República Democrática do Congo (Kinshasa), e vai juntar-se ao Cassai, antes de desaguar no Zaire. O percurso do Cuango em Angols é aproximadamente 855 km, e a sua bacia hidrográfica é de 128.280 km. O Antigo Reino de Cassange e o Antigo Reino de Matamba eram situados na bacia do Cuango.

O rio Cassai nasce também no Alto Chicapa e é na margem esquerda o maior tributário do Zaire. A sua extensão total é de 1.940 km, dos quais 825 são em território angolano, servindo de fronteira para a metade norte da fronteira leste com a Republica Democrática do Congo. A extensão da sua bacia hidrgráfica em Angola é de cerca de 127.770 km². O rio Cassai não é navegável em Angola. O rio Cassai e os os seus tributários constituíram a rede de comunicações fundamental ao nascimento e expansão dos Impérios Lunda e Lunda-Quioco.

O rio Cuanza nasce perto do Chitembo, no planalto do Bié, e tem um curso de 960 km inteiramente dentro do território angolano. O seu curso faz uma grande curva para Norte e para Oeste, antes de desaguar no Atlântico a sul de Luanda (Barra do Cuanza). O Cuanza é navegável por 258 km desde a foz até ao Dondo, e a sua bacia hidrográfica é de 147.690 km². As barragens de Cambambe e de Capanda produzem grande parte da energia eléctrica consumida em Luanda. As grandes quedas de água da Calandula (Duque de Bragança) encontram-se situadas no curso médio do Cuanza. O rio Cuanza foi o berço do Antigo Reino do Ndongo.

O rio Cunene nasce no planalto do Huambo (nas Boas àguas), e corre na direcção Sul até atingir as quedas do Ruacaná, a partir de onde inflecte para Oeste até à sua foz no Atlântico. O curso do Cunene é de cerca de 1.200 km, dos quais 960 km em Angola, dos quais 190 km são navegáveis em Angola. A sua foz é por vezes não distinguível pois a infiltração é subterrânea. A bacia hidrográfica do rio Cunene é de 272.000 km², dos quais 150.800 km² em território angolano. O rio Cunene é o partilhado pelos povos Nhaneca-Humbe, Ambó e Herero.

O rio Zambeze nasce na Zâmbia a 30 km da fronteira com Angola. Entra em Angola no Cazombo num breve curso até que sai do território angolano a sul do Lumbala (no saliente do Cazombo). A sua importância em Angola é devida principalmente à sua extensa bacia hidrográfica de 1.330.000 km², dos quais 150.800 em território angolano. Todos os rios no quadrante sudeste de Angola são tributários do Zambeze. Do ponto de visa histórico, o curso inicial do rio Zambeze é importante para o povo Luena e para o Império do Barotze.

O rio Cubango nasce perto de Chicala-Tchiloango (Vila Nova) no planalto do Huambo e tem um curso de 975 km. O Cubango corre em direcção Sul até atingir Kuvango (Ganguelas, Vila Artur de Paiva) a nordeste da Huíla onde recebe o rio Cutato como afluente, e onde começa a inflectir para Leste até atingir a fronteira Sul com a Namíbia, de onde passa a servir de fronteira até ao Mucusso, nas Terras do Fim do Mundo. Parte das àguas do rio Cubango perdem-se em pântanos no Botswana. A bacia do Cubango em Angola é de cerca de 154.420 km². O rio Cubango é importante para a história dos povos Khoisan e Ambó.

O rio Cuando nasce no Alto Cuíto, no planalto do Bié, correndo para Sudeste até atingir a fronteira com a Zâmbia, de que passa a servir de fronteira até ao Luiana, entrando depois na antiga região do Barotze (na Zâmbia). O Cuando é um tributário do Zambeze, e tem uma bacia hidrográfica de 96.780 km², e um percurso de 735 km em território angolano. O Cuando é um rio importante na história do povo Xindonga.

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